UCRÂNIA – PARTE 5
Gente - Viagens - 17/10/2023O metrô, o grande abrigo de Kiev
A Natali foi uma das pessoas que se dispuseram a me mostrar Kiev e explicar o momento atual.
Ela estava me contando sobre os dias mais difíceis de Kiev do final de fevereiro 2022. Em um só dia, foram mais de 70 mísseis em série sobre a cidade. Ruas vazias, sem eletricidade, alarme tocando sem parar. Ela interrompeu a fala e me puxou dizendo, “vem comigo, vou te mostrar algo muito especial, o metrô de Kiev! ”.
O metrô de Kiev é um dos mais antigos do mundo, estações profundas, enormes, salões amplos, luminárias de museu, muitas obras de arte pelas galerias. O lugar perfeito para se abrigar dos ataques aéreos.
Nos períodos mais graves, as pessoas desciam para as estações sem saber por quanto tempo iriam ficar por lá. Horas, dias ou semanas? Levavam colchões, cobertores e um mínimo de pertences pessoais.
Nas estações mais centrais, muitas pessoas famosas como músicos, cantores e até atores da TV se misturavam com a população. Cantorias coletivas, poemas e ensaios de improviso ajudavam a passar o tempo e a angustia. Penumbra, alarmes e falta de informação por dias.
Um dia, a energia voltou, os alarmes cessaram e os mais ousados foram na frente para ver o que estava acontecendo lá fora. A Natali contou que saiu, foi caminhando até chegar ao pé do seu prédio, quando avistou seu gato na sacada. Desmontou de emoção! Mesmo sem nenhuma intimidade, me abraçou, olhos lacrimejando, me dizendo que nesse dia sabia que não ia morrer tão cedo e que as pessoas gritavam na rua por terem sobrevivido, por terem “vencido”!
Hoje a grande maioria das pessoas não segue as recomendações de seguir para os abrigos quando soam os alarmes. Seguem como se nada fosse em um misto de cansaço, afronta ao inimigo e confiança nos atuais sistemas de defesa antiaérea. Apesar das aparências, é sempre tenso, o trauma existe, os pesadelos e a insônia estão aí.
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